09/12/10

A consoada do silêncio

Foi o único Natal da minha vida em que comi o bacalhau da consoada sozinha.
A família juntou-se à mesa quando eu ainda estava na Rádio, a fazer as habituais duas horas de "Divagando". Era a última noite em que íamos para o ar, antes do encerramento obrigatório das rádios locais.
Entre os temas musicais seleccionados com um muito especial cuidado, li um poema que perguntava "E quando não for Natal?", passei a versão Disney do "Conto de Natal", de Charles Dickens...e «vinguei-me» do que estava a acontecer, lendo um artigo de Fernando Dacosta sobre "a matança dos inocentes" (nós!) que terminava assim: "Cavaco Silva parece, em termos culturais, ter vocação de Herodes."
Depois, com um instrumental de "Je ne regrette rien" por fundo, comentei que não lamentava realmente nada ter, um dia, aceite o convite que me foi feito pelo Jorge Simões e ter ido parar à Rádio Azul.
"Estou a deixar-me levar pelo sentimento, mas neste momento apetece-me de facto formular os meus votos de um Feliz Natal a todos os colegas que aqui passaram: a Paula Belchior, o Pedro Brinca, a Adelaide Coelho, o Paulo Sérgio e tantos, tantos outros..."

Foi assim, a 24 de Dezembro de 1988, como atesta a gravação que fiz e guardei religiosamente.
Vinte e dois anos mais tarde, renovo os votos de um Feliz Natal a todos os que preservam no coração este Azul (Com)passado.

Dina Barco

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