18/05/11

Patinhos

Em 1987, o programa "Livro de Reclamações" (transmitido semanalmente aos domingos na Rádio Azul - 22h00h) permitia aos ouvintes dizerem o que lhes ia na alma. Era frequente, muito frequente, o então presidente da autarquia, Manuel da Mata de Cáceres, ser visado (muito) nas críticas e às vezes nos elogios. Numa dessas emissões, em directo, a primeira ouvinte alertou para a ausência dos patinhos no lago do jardim do Bonfim. O segundo participante reforçou a "queixa" e foi mais longe, insinuando que o presidente Mata Cacéres teria "feito uma patuscada com os patos, juntamente com os vereadores e pessoal dos serviços". Estava aberta a "guerra" e durante duas horas falou-se patos. Com sentimentos mistos; saudades, pena, alguma raivinha, etc...
A Rádio Azul primava pela isenção. Era regra da casa ouvir sempre as duas partes. E no dia seguinte logo pela manhã começaram os telefonemas para a câmara de Setúbal, direccionados para a adjunta do presidente, Conceição Catela. Infrutíferos. A senhora não estava e tínhamos que passar por ela. A tarde não premiou os esforços e no dia seguinte, ao fim da tarde, estávamos na mesma. O director de informação, Jorge Simões, pergunta-me pela milionésima vez se já tinha tentado/falado com a senhora e mais uma vez respondi que sim.. e que não. "Cá para mim ainda nem tentaste e estás com coisas", afirmou. Reafirmei ter tentado nas tardes dos dois dias e nada...
O Jorge Simões pega no telefone e... teve sorte! Apanhou a adjunta de Mata Cáceres que até se prontificou a gravar uma explicação (creio que os patos estavam noutro local porque o lago ia ser limpo). Acabada a gravação, o Jorge Simões olha para mim, vitorioso e comenta: "Não estava né? Não estiveste para te incomodar, pronto!". Caiu-me mal aquela crítica. Porque tinha telefonado vezes sem conta à senhora adjunta, que nunca me atendeu nem respondeu aos meus recados. Bolas, acho que nesse dia a brindei com um nome... pouco carinhoso!

N.B. Os anos passaram. A Conceição Catela regressou ao ensino, a vocação maior. Na primeira guerra do Golfo, por ser na altura a única licenciada em História (em Portugal) com uma tese ou um trabalho de faculdade sobre defesa, foi comentadora de alguns acontecimentos, tornou-se ainda colaboradora na nossa rádio na área da Educação, numa rubrica semanal e mais à frente, comentadora num programa de turismo - "Ouro sobre Azul" (criado e apresentado por mim). Acabámos por nos aproximar no plano pessoal. O último fim de ano foi passado em casa dela e... juro que não comemos pato!

A caminho dos 26...

Este blog nasceu depois do jantar comemorativo dos 25 anos da Rádio Azul, depois de se terem recuperado contactos, de se terem partilhado abraços, sorrisos, alegrias e muita emoção! Quando muitos tinham a lágrima presa no canto do olho ao recordar as histórias de momentos partilhados sob a protecção dos 98.9!
De há uns tempos a esta parte anda adormecido! Há que o reavivar! Até porque se aproxima o 26º aniversário e já fui recrutada como membro da Comissão Executiva da Organização do Jantar dos 26 anos da Rádio Azul! Tarefa que abraço com determinação e orgulho! Até com alguma emoção por confiarem à "miúda", uma vez mais, uma tão importante tarefa.
O caderninho do ano passado voltará a estar sobre a mesa e desta vez a contar receber mais participações!
No ano em que passam 20 sobre o meu início nas lides do jornalismo, este jantar reveste-se de uma especial importância, porque muitos daqueles com quem partilhei a antena da Azul foram pedras fundamentais nos alicerces do meu crescimento radiofónico e profissional.
Vai ser bom rever-vos ao fim de um ano!

25/12/10

"Restos" mágicos

Há quinze anos, no dia de hoje, o meu Natal começou mais cedo. Na Rádio Azul, a apresentar o programa da manhã (07/10h). Acredito que a emissão correu bem e quase estraguei tudo no final, quando - ainda em piloto automático - desejei aos ouvintes, "um Natal cheio de restos". E foi tão sentido o desejo, que provocou ainda mais gargalhadas na estação, semi - deserta.
A Natália Abreu estava de serviço comigo, naquela manhã. E nunca mais se esqueceu. Hoje mesmo publicou no Facebook essa frase "brilhante", reinvindicando como parte integrante do espólio pessoal. Dela, pois claro.
Dou comigo a pensar na importância desses "restos". "Restos" mágicos. Porque restaram. Porque ficaram. Quinze anos depois. Apetece-me abraçar esses "restos" e outros bem mais recentes. Todos os "restos" que restam, que ficam, na memória, no coração. São "restos" que nunca foram... restos. São pedaços da própria vida que a gente recupera, sem nunca ter perdido.E agora sim, "tenha um resto de um feliz Natal!".

11/12/10

24 De Dezembro (1991 ou 92 não tenho certeza do ano)

Foi a primeira consoada fora da família de sangue.
Era o Armando Carvalheda director de programas, na rifa calhou-me a noite de consoada. Depois de comer apressadamente em casa, lá fui eu carregada de LP’S para a estrada da baixa de Palmela, de serviço na redacção estava a Adelaide Coelho (grande amiga para uma noite especial). O farnel ia no Renult 5 do meu pai. Mesa posta na redacção, emissão no ar. Na mala do vinil constava um 33 rotações fantástico, um Duplo MiX de música, cada lado do vinil durava aproximadamente 24 minutos, dava quase para 2 horas. Tudo estrategicamente montado e combinado com a Adelaide Coelho, emissão “normal” até às 23, a partir daí os MIXES entravam em circulação, ia ao estudio de 23 em 23 minutos. As sonoras gargalhadas coloríamos o ambiente da fria casa… “As espertas” ludibriavam os demais, sentadas na redacção contando historias, gargalhando comendo… até que percebemos que nenhuma das duas tinha levando copos. A Garrafa de whisky olhava para nós, as nossas gargantas secas de tanto rir e falar, pediam um pouco de líquido. Que fazemos? … …
Que fazemos? … Arrombamos bar da Isabel? Não! Sempre doidas mas muito sensatas sabíamos se o fizéssemos, teríamos problemas, perceberiam que precisávamos dos copos para beber em serviço. Uma de nós; sinceramente não me recordo quem teve a ideia, o que sei é que ambas concordámos. Em papel fizemos canudos para beber o whisky, ate o papel ficar ensopado, dava para beber uns bons golos. O que não sabíamos é a beber assim o “estalo” era assumidamente maior. Faltavam poucos minutos para a meia- noite, a garrafa de whisky já passava de meio. Quando eu ia ao estudio confesso que tinha dificuldade em articular as palavras, a concentração para aquele comento era imensa estava bem “almariada” … ai se estava.
O Telefone preto toca (lembram-se do telefone  )… olhámos uma para a outra … quem será a esta hora?
Eu com ar sério, atendo …. Do outro lado da linha oiço a voz do Armando, rapidamente fiquei sóbria, ai… pensei, vai falar-me do mix que está no ar! Vai perceber que a dicção podia estar mais aberta, vou passar mais 2 semanas com um lápis na boca para abrir a mandíbula.
Tal não é o meu espanto… do outro lado… oiço um franco Feliz Natal e um elogio ao programa… não esqueço a frase…. «…Lena estás a fazer uma emissão muitooo boa…. Parabéns… »
Quando desliguei a chamada não preciso escrever o que se passou?
Eu e a Adelaide rimos tantoo mas tantooo… escusado será dizer que a garrafa de whisky foi vazia para o Renult 5 (claro, não deixámos rastos)
Foi uma noite e tanto de Natal… Só hoje percebo a riqueza desse momento de puro convívio… Foi a única noite de Natal que trabalhei ao microfone. Noite essa que recordo todos os anos, quando estou sentada junto à família na consoada!
Bom Natal a Todos! Amigos que a Azul uniu!
Para ti Adelaide um grande beijo… foste uma grande companheira de Natal…………..

09/12/10

Palavrinhos e véspera de Natal

Véspera de Natal, início da tarde, nos - então - novíssimos estúdios da Rádio Azul (1986). Damo-nos conta que não tínhamos nada alusivo à quadra, para o nosso programa de informação, Gazeta da Tarde. Num ápice e com meia duzia de telefonemas, chama-se toda a redacção à base, onde só estavamos de serviço eu e o Jorge Simões. Redacção reunida, definem-se estratégias. Vai tudo para rua fazer reportagens, exceptuando os dois que estavam na escala. Coube-me fazer noticiários e a própria Gazeta, enquanto que o Jorge Simões (que ainda por cima precisava de sair mais cedo) iria gravar rm's. Os outros companheiros iriam conciliar as reportagens com as compras (de última hora) de Natal.
A tarde avançou no tempo, o Jorge saiu deixando algumas rm's prontos para irem para o ar e de repente fiquei sozinha. Com um programa de uma hora para fazer e sem saber muito bem o que fazer. O material disponível daria para quinze ou vinte minutos. Às 19h entrei no ar. Angustiada! Ninguém dava sinal de vida, ninguém chegava com reportagens e o material estava rapidamente a esgotar-se.
Passava o penúltimo "rm" disponível e de repente, todos os repórteres invadem o estúdio e em vez de começarem a montar o material, resolveram mostrar-me o que tinham feito. Todos ao mesmo tempo! O "rm" que estava no ar, estava a acabar e... acabou. Gritei pelo intercomunicador para o técnico "cola a publicidade" e na precipitação abri o microfone enquanto dizia "despachem-se p..., vão montar essas coisas, m..., eu ouço tudo quando estiver a passar... p..., despachem-se!" E fiquei por aqui, quando me dei conta das expressões de espanto dos meus colegas. Estava sem "phones" e não me dei conta que tudo o que eu tinha dito, tinha saído na antena!
(...)
O meu desabafo surtiu alguns efeitos. Os repórteres foram todos para a redacção tratar das reportagens que por artes mágicas começaram a entrar em tempo recorde.
No final do programa, fiquei a saber que, por causa dos "palavrinhos" que eu tinha proferido em directo, o policia sinaleiro da Avenida dos Combatentes, esteve prestes a ser atropelado. Pela Mila de Matos (directora comercial da R.A.). Quando ouviu o meu primeiro desabafo, achou que não tinha ouvido bem e procurou sintonizar o rádio. Com o carro em andamento e felizmente que seguia devagar. Quando confirmou que era mesmo eu que estava a desabafar também se deu conta que ou travão a fundo, ou policia atropelado. Abençoado travão!

N.B. No dia do jantar dos 25 anos da rádio, comentei esta história com algumas pessoas. Entre elas o Luís Monteiro e o João Melo. E comentei também que - à excepção da Mila - mais ninguém me chamou para atenção para os desabafos em directo. Resposta do João Melo: "Só disseste isso? Claro que ninguém ralhou contigo, ora! Esses palavrões eram pacíficos comparados com os que muito boa gente proferiu, de microfone aberto!".

A consoada do silêncio

Foi o único Natal da minha vida em que comi o bacalhau da consoada sozinha.
A família juntou-se à mesa quando eu ainda estava na Rádio, a fazer as habituais duas horas de "Divagando". Era a última noite em que íamos para o ar, antes do encerramento obrigatório das rádios locais.
Entre os temas musicais seleccionados com um muito especial cuidado, li um poema que perguntava "E quando não for Natal?", passei a versão Disney do "Conto de Natal", de Charles Dickens...e «vinguei-me» do que estava a acontecer, lendo um artigo de Fernando Dacosta sobre "a matança dos inocentes" (nós!) que terminava assim: "Cavaco Silva parece, em termos culturais, ter vocação de Herodes."
Depois, com um instrumental de "Je ne regrette rien" por fundo, comentei que não lamentava realmente nada ter, um dia, aceite o convite que me foi feito pelo Jorge Simões e ter ido parar à Rádio Azul.
"Estou a deixar-me levar pelo sentimento, mas neste momento apetece-me de facto formular os meus votos de um Feliz Natal a todos os colegas que aqui passaram: a Paula Belchior, o Pedro Brinca, a Adelaide Coelho, o Paulo Sérgio e tantos, tantos outros..."

Foi assim, a 24 de Dezembro de 1988, como atesta a gravação que fiz e guardei religiosamente.
Vinte e dois anos mais tarde, renovo os votos de um Feliz Natal a todos os que preservam no coração este Azul (Com)passado.

Dina Barco